terça-feira, 16 de agosto de 2011

América vermelha: 5 anos da noite que não podia dar errado


Tinga, contra o São Paulo, marcou o último gol do Internacional na conquista da Copa Libertadores 2006, há cinco anos. Nesta galeria especial .... Foto: AFP Gol de Tinga garantiu o título da Libertadores para o Inter
Foto: AFP


Muitas das 57 mil pessoas que estavam no Beira-Rio no dia 16 de agosto de 2006 sentiam que algo tinha que dar errado. O Internacional enfrentava o então tricampeão mundial São Paulo; tinha um time focado, repleto de bons jogadores, e decidia em casa após uma maiúscula vitória no Morumbi. Porém, era o Inter, e algo tinha que dar errado. A começar pelo tempo: choveu muito naquele dia e até o início da noite, agosto é um mês geralmente frio em Porto Alegre.
O Internacional vinha de uma série de fracassos, que pareciam ser intermináveis. Durante os anos 90, por anos seguidos o clube ficou de fora da fase final do Campeonato Brasileiro por um ponto, uma vitória, um gol. A série de infortúnios se estendeu pelos anos 2000: em 2002, a quase queda para a segunda divisão de um time que fez uma campanha publicitária otimista no início do certame: "Depois do Penta (da Seleção), o Tetra".
Em 2003, o sonho de voltar à Libertadores depois de 10 anos dilacerado em um 5 a 0 para o São Caetano, com maioria colorada em São Paulo; em 2004, a goleada para o Boca Juniors na Copa Sul-Americana; em 2005, a anulação de jogos que tirou a liderança do Inter e culminou com uma surreal volta olímpica de vices que se achavam campeões. Em 16 de agosto de 2006, eram 57 mil com o lombo açoitado, fora aqueles milhões que não puderam ir ao estádio. Algo tinha que dar errado.
A chuva, o vento e o frio eram metáforas da nuvem negra que há anos estava pousada sobre o Gigante da Beira-Rio. O Inter usou um arsenal de superstições: desde os santos do jardineiro Frank, colocados atrás dos gols com velas acesas, até a banda militar que mal era ouvida, mas que entrara em todos os jogos daquela Libertadores e deveria também entrar na final.
Temendo um eventual desastre, a Brigada Militar do RS anunciou medidas peculiares, como a instalação de bafômetros nos portões para evitar o ingresso de torcedores bêbados - não sei de nenhum que tenha sido barrado. Também estavam proibidas as faixas verticais na torcida - as famosas 'barras' - e a fiscalização aos sinalizadores estava mais rígida. Isso não impediu a torcida Camisa 12 de ligar as luzes e interromper o jogo por um par de minutos, quando o São Paulo estava perto de abrir o placar.
Logo depois disso, o Inter saiu da defesa e passou a arriscar. Foi recompensado com uma falha de Rogério Ceni, que deixou a bola picar diante de Fabiano Eller: bola no pé de Fernandão, Inter 1 a 0.
A partir daí, mesmo os pessimistas acreditaram. O que tinha tudo para dar errado estava dando certo. O São Paulo precisava de dois, quiçá três. Conseguiu um com Fabão, apenas no segundo tempo. A catarse de vez aconteceu aos 20min, quando em um cruzamento perfeito de Ceará, Fernandão cabeceou, Rogério fez o milagre, Fernandão cruzou de novo e um improvável Tinga concluiu. Sem impedimento. Inapelável. O 2 a 1, mesmo placar do Morumbi, fincou a taça no museu do Inter. Para todos os neutros. Para todos os que entendiam de futebol. Para todos os que assistiam sem torcer nem secar.
Porém, Tinga foi expulso por tirar a camisa. Para quem sentiu durante anos e anos que sempre há uma chance de dar errado, a taça não estava no Beira-Rio. O time sentiu. Os chutes tricolores apareceram. Em um deles, Clemer soltou e lá estava o 2 a 2. 40min. Frio na espinha do torcedor da arquibancada, do torcedor da TV, até do secador desavisado. Foram oito minutos, quatro linhas na resenha do jogo, dezoito horas na visão de um colorado. Seria assim o destino, tiraria o gosto da taça depois de estar tão perto? Bastava um gol para o desastre se consumar. O mesmo desastre do Bahia, em 1989, do Olímpia, no mesmo 1989, do Nacional, em 1980, e outros tantos.
O apito final de Horácio Elizondo, quando um escanteio perigoso estava por subir na área do Inter, fez todo o sofrimento de anos fazer sentido. As lágrimas correram, os gritos ressoaram, os joelhos atravessaram o campo, as bandeiras tremularam nas mãos de Rafael Sobis, os fogos acenderam, e até os indignados de sempre cornetearam: "puxa, podia ser menos sofrido", disse um homem que comia um pastel do lado de fora.
Porto Alegre não dormiu, e acordou de ressaca. De todas as boas lembranças daquele 16 de agosto de 2006, a melhor delas é que, desde então, quem vai de vermelho à arquibancada do Beira-Rio sabe que tudo pode dar certo.




SAUDAÇÕES COLORADAS.

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